O JOVEM E O SEU CORPO

Quando Deus fez a terra e o céu, ainda não havia na terra nenhuma planta do campo, pois no campo ainda não havia brotado nenhuma erva: Deus não tinha feito chover sobre a terra e não havia homem que cultivasse o solo e fizesse subir da terra a água para regar a superfície do solo. Então Deus modelou o homem com a argila do solo, soprou-lhe nas narinas um sopro de vida, e o homem tornou-se um ser vivente... Deus disse: “Não é bom que o homem esteja sozinho. Vou fazer para ele uma auxiliar que lhe seja semelhante”... Então Deus fez cair um torpor sobre o homem, e ele dormiu. Tomou então uma costela do homem e no lugar fez crescer carne. Depois, da costela que tinha tirado do homem, Deus modelou uma mulher, e apresentou-a para o homem. Então o homem exclamou: “Esta sim é osso dos meus ossos e carne da minha carne! Ela será chamada mulher, porque foi tirada do homem!” (Gn 2,4b-7;18;21-23)

Ainda no capítulo 1 do Gênesis, no seu final, após Deus ter criado tudo o que existe sobre a face da terra, do céu e dos mares, Deus disse: “Façamos o homem à nossa imagem e semelhança. Que ele domine os peixes do mar, as aves do céu, os animais domésticos, todas as feras e todos os répteis que rastejam sobre a terra”. E Deus criou o homem à sua imagem; à imagem de Deus ele o criou; e os criou homem e mulher. (Gn 1, 26-27) 

Caríssimos jovens, desta linda narração da criação do Homem por Deus, podemos tirar vários pontos para serem analisados, mas como este não é um estudo aprofundado, enfocaremos somente o principais, quais sejam: 

- O primeiro deles, diz respeito ao momento da criação do Homem, do Ser Humano, por Deus. Diz o autor sagrado, que fomos criados do barro. Claro que esta afirmativa é uma forma metafórica de descrever a criação, contendo em si todo um simbolismo, já que, a linguagem de trabalhar o barro, era bastante compreensível naquela época, já que a função de oleiro era muito comum entre os povos daquele tempo. Não significando, no entanto, que Deus nos criou do barro verdadeiramente, embora se o quisesse poderia, já que para Deus nada é impossível. Mas o mais importante, é que devemos ter a certeza absoluta de que foi Deus que nos criou, de uma forma ou de outra, que não sabemos ao certo, mas o importante disso tudo é que fique em nossas mentes esta certeza: “Fomos criados por Deus!”

- O segundo aspecto é com relação a criação da mulher, que também aparece no texto sagrado cheio de simbolismo, já que a mulher não foi tirada da costela do homem literalmente, embora, novamente, poderia ter sido assim se Deus o quisesse. Mas o que é importante nisso é o simbolismo que nos faz entender que a mulher é igual ao homem em importância perante Deus. E isso naquele tempo, assim como em alguns lugares e culturas ainda em nossa época atual, era muito difícil de ser entendido e aceito, pois era uma cultura machista e de submissão da mulher ao homem. Quando o escritor sagrado narra que a mulher foi tirada da costela do homem e não do seu calcanhar, da sua cabeça ou outra parte qualquer, nos leva a entender que, como a costela está no meio do corpo humano, protegendo os órgãos vitais, assim como o coração e próxima a ele, a mulher deve ser considerada como igual ao homem em todos os sentidos, e amada e cuidada pelo homem e vice e versa.

- O terceiro aspecto, é talvez o mais importante para nós seres humanos, e é o que nos faz diferentes de todas as demais criaturas e seres vivos da face da terra. Diz o texto sagrado: “Deus modelou o homem com a argila do solo, soprou-lhe nas narinas um sopro de vida, e o homem tornou-se um ser vivente”. O sopro de Deus é a nossa alma, o nosso espírito, aquilo que nos dá a vida, e como diz o texto, nos fez tornar um “ser vivente”.  Deus nos deu a nossa identidade espiritual, algo que é único a cada pessoa humana e que nunca morrerá. Dessa forma, como diz o Catecismo da Igreja Católica (364): “O corpo do homem participa da dignidade da ‘imagem de Deus’: ele é corpo humano precisamente porque é animado pela alma espiritual, e é pessoa humana inteira que está destinada a tornar-se, no Corpo de Cristo, o Templo do Espírito.”

Para completar essa linda análise do momento da criação do homem, fecharemos com “chave de ouro” este nosso breve estudo, pois nos deliciaremos agora, com a afirmativa do texto sagrado que nos relata no capítulo 1, versículo 26 o seguinte: “Então Deus disse: ‘Façamos o homem à nossa imagem e semelhança.”  Vejam que maravilha é essa narrativa e quão grande é o amor e o carinho de Deus por nós, seres humanos. Ele nos criou à sua imagem e semelhança, ou seja, somos à imagem de Deus. Um Deus que é uno e trino, pois essa Trindade Santa se revela no momento em que o escritor sagrado relata: “Façamos o homem...” Ou seja, toda a Trindade participa da criação do homem, o que nos faz acreditar, que somos muito importantes para Deus e Ele nos ama de maneira incondicional e com um amor que ainda não somos capazes de imaginar toda a sua dimensão.

Podemos então, caríssimos jovens, entender melhor agora, a importância do nosso corpo na nossa plenitude de seres humanos, criados à imagem e semelhança de Deus, portadores de uma alma nos dada por Deus e templo do Espírito desse mesmo Deus que nos criou. Disso tudo podemos concluir que realmente somos seres especiais perante Deus.

O Catecismo da Igreja Católica (364) nos diz ainda:

“Unidade de corpo e de alma, o homem, por sua própria condição corporal, sintetiza em si os elementos do mundo material, que nele assim atinge sua plenitude e apresenta livremente ao Criador uma voz de louvor. Não é, portanto, lícito ao homem desprezar a vida corporal: ao contrário, deve estimar e honrar seu corpo, porque criado por Deus é destinado à ressurreição no último dia.”

Tudo o que vimos até agora, nos leva a entender de forma bastante contundente que devemos cuidar bem do nosso corpo, não pura e simplesmente por motivo de estética ou para "querer aparecer", mas, por ser o nosso corpo, junto com a nossa alma, um ser especial para Deus.

Assim, devemos ter muito cuidado com diversos aspectos que dizem respeito às coisas que afetam o nosso corpo, como por exemplo:

- PROSTITUIÇÃO DO CORPO: São Paulo já nos alertava quanto a isso em 1Cor 6,15: “Vocês não sabem que seus corpos são membros de Cristo? Tomarei, então, os membros de Cristo para fazê-los membros de uma prostituta? Claro que não!” Jovem, a prostituição do corpo, que é Templo do Espírito Santo, leva a corrupção da alma e isso nos afasta de Deus, nos deixa vazios, sem sentido para a vida. Nos faz viver como animais, aqueles mesmos que não possuem uma alma. Pois é ela que nos torna diferentes: “imagem e semelhança de Deus”. Como e por que então corromper algo que é de Deus, foi criado por Ele e é Templo desse mesmo Deus?  Não venda seu corpo por dinheiro ou troque-o por qualquer outra coisa, nem mesmo por promessas de “amor”, como infelizmente fazem algumas jovens atendendo aos pedidos seus namorados.

- MUTILAÇÕES DO CORPO: Ainda como Templo do Espírito Santo, nosso corpo deve ser respeitado em todos os aspectos, não devendo ser maltratado ou mutilado sem que por razões importantes e necessárias, como por exemplo, por razões médicas, a amputação de um membro para salvar a própria vida. Fora isso, as mutilações do nosso corpo, feitas para que o jovem se torne diferente dentro da sociedade, ou como forma de chocar e espantar as pessoas por simples prazer sádico, ou como forma pura e simples de protesto, ou ainda como forma de se tornar aceito e participar de grupos ou tribos esotéricas, ou seja lá, por qualquer outra motivação, deve ser evitada. Lembremo-nos de que foi Deus quem nos criou assim, e nos criou perfeitos; nós é que nos corrompemos. Querido jovem cuide bem do seu corpo, trate-o com respeito e carinho, pois ele é um grande bem que Deus te deu, demonstrando todo o amor que tem por você, a tal ponto que no último dia será ressuscitado pelo próprio Deus.

- ENFEITES E ADORNOS NO CORPO: Como falei acima, Deus nos criou perfeitos, pois tudo o que Ele faz é perfeito e bom. Assim, o nosso corpo já está perfeito, mesmo quando aos nossos olhos humanos, não nos sentimos satisfeitos com ele, pelo nosso orgulho, inveja ou mesmo superficialidade. Assim, não há necessidade de se ficar querendo enfeitar o corpo que Deus nos deu, com adornos e enfeites, que muitas vezes o descaracterizam, cabendo até que você se pergunte: “Ainda tenho o mesmo corpo que Deus me deu, ou só resta uma parcela dele?”  “Será que Deus vai me reconhecer quando chegar à sua frente no último dia?” É claro que Deus nos reconhecerá, pois nos conhece por dentro, mas, se fosse só por fora...?!

Dentro desses enfeites e adornos que podemos citar, em relação aos jovens, destacamos dois. São eles:

- TATUAGENS: Como vimos acima, qualquer marca que se queira fazer em nosso corpo, é uma alteração de como fomos criados.

Daí devemos nos perguntar:

Por que eu quero fazer uma tatuagem? É para parecer diferente? É uma forma de protesto, de revolta? É por pensar que eu faço o que quero e ninguém tem nada com isso? É para ficar na moda? É para lembrar-se de alguém? Etc.

Em cima disto, eu pergunto:

Você está disposto a lidar com as consequências de uma marca em seu corpo, para toda a vida? E se você enjoar dela? E se a moda passar? Ou se o motivo pelo qual você a fez não existir mais? E se, de repente, ela lhe trouxer más recordações?

Acho que você deveria pensar no conselho nos dados pelas Sagradas Escrituras, na primeira carta de São Pedro, cap.3, versículos 3 e 4 (1Pd 3,3-4): “Não seja o vosso adorno o que aparece externamente: cabelos trançados, ornamentos de ouro, vestidos elegantes; mas tende aquele ornato interior e oculto do coração, a pureza incorruptível de um espírito suave e pacífico, o que é tão precioso aos olhos de Deus”.

No A.T., existem diversas passagens que condenam a tatuagem, tais como em Lv 19,28: “Não fareis incisões na vossa carne por um morto, nem fareis figura alguma no vosso corpo. Eu sou o Senhor”. Isso acontecia porque os povos com os quais os israelitas conviviam, usavam a tatuagem como uma forma de adoração aos falsos deuses, ou para afastar os espíritos maus.

Dessa forma o cristão católico deve pensar muito antes de fazer uma tatuagem em seu corpo, lembrando sempre que o nosso corpo é TEMPLO DO DIVINO ESPÍRITO SANTO, conforme podemos ver em 1 Cor 6, 19-20: “Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito Santo, que habita em vós, o qual recebestes de Deus e que, por isso mesmo, já não vos pertenceis? Porque fostes comprados por um grande preço. Glorificai, pois, a Deus no vosso corpo”.

Acho, queridos jovens, que temos coisas muito mais importantes para pensar e fazer em nossas vidas. Mas, se você ainda está na dúvida, procure um sacerdote e faça uma orientação espiritual com ele. Isso o ajudará muito.

No mais, reze a Deus e ao Espírito Santo para dar-lhe discernimento e sabedoria para enfrentar as tentações e dificuldades que aparecem em suas vidas.

- PIERCINGS: A prática de se usar piercing é muito antiga, chegando até a modernidade e com uma grande ênfase nos dias atuais. À primeira vista tem-se a impressão de tratar-se de mais uma moda inocente. Aí está o grave engano. Por trás desses pequenos adornos encontra-se uma sutil cilada da atual onda esotérica.

O que os jovens muitas vezes não se preocupam é em saber qual a verdadeira filosofia por trás dessa “onda” ou “modismo”. E é nesse aspecto que vocês jovens devem prestar atenção para não se envolverem ou se sentirem atraídos por práticas de ocultismo, fúnebres ou mesmo de adoração ao demônio; pois muitas “tribos” ou grupos adotam esse tipo de prática associada a rituais que disfarçam verdadeiros cultos satânicos.

Dessa forma o cristão católico deve pensar muito antes de colocar um piercing em seu corpo, valendo lembrar sempre que o nosso corpo é TEMPLO DO DIVINO ESPÍRITO SANTO, como já falamos antes.

E se você jovem já tem um ou mais piercings irreversíveis colocados em seu corpo, e concluiu que cometeu um erro no passado, não se condene. Em Ef 2, 4-5, São Paulo apresenta uma palavra encorajadora: “Mas Deus, que é rico em misericórdia, impulsionado pelo grande amor com que nos amou, quando estávamos mortos por nossos pecados, deu-nos a vida juntamente com Cristo – é por graça que fostes salvos”.

Como falei anteriormente, queridos amigos e amigas, temos coisas muito mais importantes para pensar e fazer em nossas vidas. Mas, se você ainda está na dúvida, procure um sacerdote e faça também uma orientação espiritual com ele. Isso o ajudará muito.

Gostaríamos de dizer-lhes ainda queridos jovens, que não devemos radicalizar com relação a essa prática, pois existem adornos que a Igreja não os coloca nas categorias acima mencionadas, tais como os brincos utilizados pelas mulheres, desde que não exista nenhuma vinculação à práticas esotéricas ou satânicas.

No mais, rezem também a Deus e ao Espírito Santo para dar-lhes discernimento e sabedoria para enfrentarem as tentações e dificuldades que aparecem em suas vidas.

- O CULTO AO CORPO: Uma outra prática que está muito em voga entre os jovens é o culto ao corpo. Contrário aos aspectos até agora abordados, que diziam respeito aos maus tratos ao corpo, o culto ao corpo também não é uma prática saudável, pois o jovem que a adota está simplesmente substituindo um ato de violência a um bem que Deus nos deu, por uma prática, que pode levar até ao absurdo de substituir o próprio Deus, por uma “adoração” ao próprio corpo, ao físico, ao escultural, fazendo disso a razão primeira de sua vida. Existem jovens que fazem uma verdadeira idolatria a perfeição física, seja esculpindo o seu próprio corpo, por horas e horas a fio de musculação em academias e/ou usando drogas anabólicas visando esculpi-lo artificialmente. Em ambos os casos, aos olhos da Igreja, a coisa não está certa, pois tudo o que é demais, faz mal, principalmente ao psicológico do ser humano. Sem contar que o jovem coloca assim, como falamos, “outros deuses” no lugar do único e verdadeiro Deus, Jesus Cristo.

Acontece a mesma coisa com muitas jovens, que em substituição ao culto do corpo escultural, idolatram um corpo bem pintado, maquiado e bem vestido. Isso não seria nada demais, se essa prática muitas vezes não se torne uma verdadeira doença, como se diz por aí, verdadeira psicose com a aparência corporal. São jovens, as vezes muito novas, que não saem de casa para ir à esquina, sem se pintarem, passarem maquiagem, estarem com as unhas muito bem feitas, os cabelos ornalmentamente bem penteados, etc. Isso está mais para uma doença do que para uma prática saudável de cuidar bem do corpo.

Enfim, queridos jovens, concluindo esse nosso artigo, eu queria lembrar uma passagem de São Paulo, onde ele nos diz: “Posso fazer tudo o que quero. Sim, mas nem tudo me convém. Posso fazer tudo o que quero, mas não deixarei que nada me escravize.” (1 Cor 6,12)

Reze a Deus, querido jovem; peça ao Divino Espírito Santo as virtudes da “fortaleza” e da “temperança”, evitando assim toda espécie de excesso, seja quanto aos aspectos que abordamos acima, ou outros que não tivemos tempo de analisar nesse artigo e que também afetam o nosso corpo, tais como a bebida, o fumo, a droga, a anorexia, a bulimia e tantos outros.

Fiquem com Deus e que Ele os dê forças e coragem para enfrentarem as coisas que o mundo oferece, travestidas de algo bom, mas  que no fundo só servem para destruí-los física e espiritualmente. Voltem-se para Deus e vocês verão que a felicidade está Nele e que Ele quer compartilhá-la com você.

Deus os abençoe!

Por: José Vicente Ucha Campos