Uma das coisas mais difíceis dentro de uma família, é o relacionamento entre pais e filhos, principalmente quando os filhos são adolescentes ou jovens. Nessa idade todo jovem acha que já conhece tudo, que já é "dono do seu nariz", e que não precisa prestar contas aos pais.
Os pais também, por sua vez, acham que são os donos de seus filhos, e que merecem respeito e obediência a qualquer custo e em qualquer questão, mesmo se estiverem errados; pois nesse caso, nunca dão o "braço a torcer".
Muitas vezes surgem situações nesse relacionamento, por deveras complicadas e difíceis de serem resolvidas. Mas...
Se alguns de vocês pais ou filhos, se enquadraram numa situação difícil, onde o relacionamento está complicado e tenso,
está no tempo de mudar. Não continuem vocês pais, levando suas vidas fingindo
que está tudo bem e fazendo esforço para esquecer que vocês têm filhos e
filhas, que os amam e só estão esperando uma pequena sinalização para que
possam se achegar novamente a vocês e amá-los pelos restos de suas vidas.
Dêem essa oportunidade a eles e a vocês
mesmos.
Não importa o que tenha acontecido, os
aborrecimentos que se sucederam, se o já houve rompimento, se foi tranquilo ou doloroso. Se
ficou ódio ou rancor. Tomem uma decisão importante para suas vidas. Estou
falando com vocês: pais e filhos.
Você pai, tome a iniciativa. Procure
seu(s) filho(s) e/ou filha(s), puxe conversa como quem não quer nada. Vá
conquistando-os novamente. Pode ser que demore um pouco ou mesmo que você
encontre uma certa resistência. Mas, Vale a Pena !
E vocês ? Filhos e filhas ! Se seus pais
ainda não tiveram a coragem de se achegarem a vocês, tomem então a iniciativa.
Reconquistem seus pais. Também Vale a Pena ! Não deixem que as amarguras
passadas, mantenham-nos com esse vazio que existe dentro de vocês.
Cheguem-se a seus pais. Talvez também não
seja tão fácil, pois às vezes mesmo querendo a reconciliação, os pais não
querem dar o braço a torcer, porque será uma situação nova para eles e que eles
ainda não sabem muito bem como lidar com isso. Por isso, é importante que vocês
filhos, vão quebrando esta parede que muitas vezes acha-se à frente de seus
pais, como uma forma de defesa deles.
Eu sei que vocês devem estar pensando:
Puxa , nós somos seus filhos e não seus inimigos.
Mas é assim mesmo. O medo existe também do
lado deles. E é muito mais difícil para um homem formado, aceitar que errou e
que agora tem que assumir esse erro e voltar atrás, e às vezes pedir desculpas.
Sei também que quando a separação foi
sofrida, ficam marcas e marcas que muitas vezes são muito difíceis de serem
apagadas.
É aí que me lembro que uma vez li, não sei
onde, uma estória de um relacionamento entre pais e filhos, que talvez consiga
definir melhor o que eu quero transmitir a vocês nesse momento.
Era uma vez, uma família formada por pai,
mãe e um filho. Como em algumas famílias que alguns de vocês devem conhecer na
vida real, o pai era uma pessoa muito rude e severa. Estava o tempo todo sério
e poucas vezes o viram sorrindo.
Preocupava-se com o trabalho, a manutenção
da casa e só. Tratava sua esposa de modo rude e isso deixava seu filho muito
triste durante o tempo em que era criança e depois irritado e as vezes com
raiva, quando já tinha seus 14, 15 anos.
Nunca fez um carinho em seu filho e achava
que essa era a maneira correta de criá-lo para que crescesse como um verdadeiro
homem. Pois achava que carinho era coisa de mulher.
Seu filho então cresceu sem conhecer o
carinho e a amizade de seu pai.
Comparecer a escola para reunião com
professores ? Jamais.
Festa de aniversário ? Só quando era muito
criança ainda. Pois depois achava que isso era besteira e coisa de mariquinha.
Conversar com seu filho ? Muito pouco. E
na maioria das vezes que isso aconteceu, era para achar ruim com o filho por
alguma coisa que ele achava que o filho tinha feito errado.
O tempo foi passando e o filho foi
crescendo com uma tristeza e uma mágoa muito grande em seu coração.
Filho e pai já não se falavam mais, não
por culpa do filho que em algumas vezes tentou se chegar ao pai, sem no entanto
encontrar reciprocidade.
Um dia esse rapaz, já com seus 18 anos,
começou a sentir dores de cabeça frequentes e cada vez mais fortes.
Sem ter como falar com seu pai, procurou
sua mãe e lhe contou o que vinha sentindo já há algum tempo, sem no entanto,
nunca ter reclamado.
Sua mãe ficou preocupada e com certo medo,
contou ao pai do rapaz. Que mais uma vez, agiu segundo o seu modo e falou para
a esposa que achava que aquilo era frescura. Quem sente dor de cabeça é mulher.
Homem não.
A mãe continuando com a sua preocupação e
vendo que seu filho por diversas vezes ficava em seu quarto se contorcendo em
dor, aconselhou-o a procurar um médico. Já não aguentando mais o rapaz a
atendeu. Foi quando após algumas consultas e exames, recebeu a pior notícia de
sua vida. Estava com um tumor cerebral e precisaria sofrer uma cirurgia de emergência
e que por sua vez não garantiria a sua cura, pois o problema era muito sério.
Quando o rapaz contou a sua mãe o seu
desespero foi grande, mas silencioso, pois não tinha com quem repartir essa
dor.
Um dia, porém, quando o pai do rapaz
estava passando em frente ao quarto onde sua esposa fazia suas costuras, viu
que a porta estava entreaberta e escutou um sussurro vindo lá de dentro. Entre
a fresta aberta, ficou observando e viu sua esposa chorando, ajoelhada em
frente a uma imagem de Jesus Cristo, suplicando e implorando a Ele que
realizasse dois milagres na sua vida.
O primeiro era que curasse seu filho
daquele tumor que ele tinha no cérebro. Essa era a primeira vez que o pai havia
tomado ciência daquele problema de seu filho e ficou meio surpreso e confuso,
sem entender muito bem o que se passava.
Para sua maior surpresa, o segundo pedido
de sua esposa, à frente da imagem de Jesus Cristo, era que Ele tocasse no
coração de seu esposo, transformando-o de um coração de pedra em um coração de
carne e que isso permitisse que seu esposo passasse a amar seu filho e eles se
falassem antes que alguma coisa de pior acontecesse com o rapaz.
O esposo ficou ali, em frente àquela porta
por um longo tempo, ouvindo a conversava da sua esposa com Jesus, e viu a fé daquela
mulher e o seu pranto, não de raiva por ele ser como era, nem por lhe tratar
mal ou coisa parecida; mas sim, pedindo a Deus que transformasse seu coração
num coração que fosse capaz de amar seu próprio filho. Aquele que tinha sido
fruto do amor que ele um dia sentiu pela sua esposa e que ela não sabia porque
ele agia de forma tão diferente hoje em dia.
Aquela cena que ele presenciou e o que ele
escutou, calaram fundo em seu coração e ele começou a se questionar
internamente, do porque agia assim.
O pai começou a observar mais seu filho,
sem deixar que o rapaz percebesse isso. E notou que por diversas vezes seu
filho ia para o quintal e ficava sozinho, perto de uma árvore grande e frondosa
que eles tinham no quintal e que, quando garoto, gostava de brincar nela. O pai
também gostava muito dessa árvore, pois ele é que a havia plantado, visando ter
sombra no quintal.
Reparou ainda que sempre que o rapaz se
chegava perto da árvore, chorava muito. O pai, não ficava observando muito para
evitar que seu filho percebesse que ele estava ali por perto.
Um dia estava o pai assistindo televisão
próximo a sua esposa quando os dois escutaram um forte barulho, como se fosse
alguma coisa caindo. O barulho vinha da cozinha.
A esposa correu primeiro e foi ver o que
tinha acontecido e se deparou com seu filho caído no chão. Deu um forte grito
chamando o marido.
Esse levantou-se rápido e foi ver o que
havia acontecido e deparou-se também com o seu filho caído desacordado, no chão
da cozinha.
Por alguns segundos o pai ficou ali vendo
seu filho caído, desacordado e muita coisa veio a sua cabeça e ao invés de
socorrer seu filho, começou a chorar copiosamente e soluçava como uma criança.
A esposa ao ver aquilo ficou mais nervosa
ainda e começou a chorar também, mas mesmo assim, abaixou-se e tentou levantar
o seu filho. Não conseguiu, pois o rapaz era forte e pesado.
Então o pai ajoelhou-se junto ao rapaz,
segurou-o no colo e erguendo a cabeça, olhou para alto e gritou em voz forte.
“ Senhor Jesus, salva meu filho ! ”
Pegando o rapaz com dificuldade, levou até
a sua cama e pediu que enquanto isso sua esposa chamasse um médico.
O médico veio e ao se deparar com o
quadro, chamou uma ambulância e encaminhou o rapaz para o hospital mais
próximo, pois ele não estava nada bem. Os pais o acompanharam na ambulância.
Após o atendimento de emergência, no qual
o rapaz foi reanimado, ficou decidido que ele seria operado de imediato com o
acompanhamento do médico que estava acompanhando o caso. E isso seria no dia
seguinte.
A mãe ficou no hospital a noite toda e o
pai foi para casa. Queria ficar sozinho.
Ao chegar em casa, a primeira coisa que
fez foi abrir a porta do quarto de costura da esposa e se ajoelhar em frente a
imagem de Jesus Cristo.
Ali ficou a noite toda, chorando e orando
ao seu jeito, pela vida do seu filho e pedindo desculpas a Deus, por ser como
era e por ter trazido tanta mágoa para sua esposa e filho, e ainda, por ter
perdido um tempo precioso no qual não “viu” seu filho crescer e se tornar
homem.
Agora estava ali, implorando pela
misericórdia de Deus, para que salvasse seu filho, de forma a que pudesse
recuperar um pouco esse tempo perdido e tentasse se reconciliar com seu filho,
se ele ainda quisesse.
Ao amanhecer, cedo ainda, o pai triste e
confuso, foi ao quintal para, junto das árvores que lá haviam, tentar aliviar
um pouco seu coração e continuar pensando na sua vida passada e de como seria
daqui para frente.
Quando por acaso, chegou junto daquela
árvore que ele tinha visto seu filho, sozinho, ficar perto por algumas vezes.
Reparou com surpresa e mais confusão de idéias ainda, que a árvore estava toda
cheia de pregos cravados no seu tronco.
Não estava entendendo nada e pensou
rapidamente que algum estranho, por maldade, havia feito aquilo. Mas, logo
depois, refletiu melhor e juntou os fatos da árvore estar assim e de ter visto
seu filho por diversas vezes junto à ela. E começou a se perguntar. O porque
ele tinha feito aquilo, se gostava tanto daquela árvore, assim como ele também
gostava.
Se arrumou, e foi para o hospital, com
todas aquelas dúvidas e tristeza no coração.
Chegando lá teve a notícia que seu filho
já estava sendo operado.
A operação, embora muito difícil, delicada
e demorada, tinha corrido bem e os médicos estavam otimistas com a recuperação
do rapaz.
O rapaz, após algum tempo de recuperação e
acompanhamento médico, saiu do hospital e foi para casa. O pior tinha passado,
mas o risco sempre o rondaria.
Num dia de sol, o rapaz saindo à porta dos
fundos de sua casa, viu que seu pai estava sentado, de costas para a porta da
casa, junto àquela árvore que eles gostavam.
Se encheu de coragem e se aproximou, e ao
chegar perto do pai, viu que ele estava chorando em silêncio.
Sem falar nada o rapaz se abaixou ao lado
de seu pai, o abraçou bem apertado, no que foi correspondido, e choraram muito.
Sua mãe, que não se descuidava do filho um
segundo sequer, viu aquela cena, da mesma porta da casa, e também começou a
chorar. Mas, de felicidade e agradeceu a Deus, em seu coração, por aqueles
grandes milagres que ela havia pedido, estarem acontecendo em frente aos seus
olhos.
Ainda junto da árvore, pai e filho, se
abraçando, se deram um beijo no rosto um do outro e começaram a sorrir. Era uma
mistura de risos e lágrimas de felicidade .
Após algum tempo nesse êxtase, o pai meio
sem jeito, perguntou a seu filho, com todo o cuidado e carinho, se havia sido
ele que tinha colocado aqueles pregos na árvore.
O rapaz, agora com uma mistura de
sentimentos de amor, felicidade e tristeza, disse que sim. E seu pai lhe
perguntou por que ele havia feito aquilo.
Foi quando o rapaz respondeu:
- Pai, você se lembra das dificuldades
pelas quais passamos em nosso relacionamento ?
O pai respondeu que sim.
- Pois bem, querido pai, todas as vezes
que o senhor me tratava mal, brigava comigo, me desprezava ou mesmo me tratava
com frieza, eu vinha aqui fora e chorando muito de tristeza, colocava um prego
nesta árvore que eu tanto gosto e que o senhor também gosta.
Continuou ele:
- Talvez, pai, eu tenha feito isso como
uma forma de deixar registrado em algum lugar além do meu coração, a tristeza
que eu sempre senti, pelo senhor me tratar assim.
O pai, chorando copiosamente, mas ainda
agarrado ao filho, lhe disse:
- Filho querido, se eu te pedir perdão,
você me perdoaria ?
- O filho respondeu, também chorando
muito, que sim.
E então o pai prometeu ao filho que
mudaria sua vida e que o amaria muito e tentaria recuperar o tempo perdido,
tentando fazê-lo feliz. E lhe fez outro pedido:
- Querido filho, se eu te pedir também,
que para cada coisa boa que eu fizer daqui pra frente, que te faça feliz, você
retira um prego desta árvore ?
O filho respondeu que sim.
E assim eles passaram a viver suas vidas,
pela primeira vez, como uma verdadeira família. Uma família feliz. E que conheceu
o amor e a felicidade, através do sofrimento.
O rapaz ia se recuperando bem. Sua mãe não
sabia o que fazer para agradecer a Deus pelos milagres que Ele lhe havia
concedido. E o pai tentando corresponder bem ao amor de seu filho.
Um belo dia, o pai novamente passando
perto da árvore, reparou que ela estava sem nenhum prego. Sua felicidade foi
muito grande e correu então para chamar o filho e os dois foram até a árvore,
onde ele agradeceu a seu filho por ter retirado os pregos como lhe havia pedido.
Seu filho lhe disse que tinha feito aquilo
com muito amor e prazer, mas perguntou ao pai o que ele via quando olhava para
a árvore agora. O pai respondeu que via uma grande quantidade de marcas de
pregos.
Foi aí que o filho lhe disse:
- É meu pai, os pregos eu consegui
retirar, mas as marcas ficaram. Essas, eu não sei como, nem quando, vou
conseguir tirá-las.
É..., meus amigos, mesmo que vocês pais
tenham feito seus filhos encherem a árvore de seu quintal com pregos, ajude-os
a retirá-los.
Assumam seu amor por eles. Procurem-nos.
Peçam desculpas, abrace-os e beije-os. Não esperem mais tempo. Pode ser que
vocês não tenham tempo para fazer isso. Quem sabe ?
Está na hora de deixar o orgulho de lado,
as preocupações com vocês mesmos, o medo de perderem a condição de durões.
Chegou a hora do amor, do perdão e da reconciliação.
O que está faltando ? Um empurrãozinho ?
Considerem-se empurrados.
Não esqueçam que é possível retirar os
pregos da árvore . Basta quererem.
As marcas deixadas pelos pregos...? O
tempo, a natureza e principalmente o amor, um dia as encobrirão.
.
Do Livro "Filhos, Presentes Especiais
de Deus"
Por José Vicente Ucha Campos
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